Uma nova modalidade de golpe utilizando o nome de operadoras de telefonia e até da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), além da ação direta de funcionários, como atendentes e técnicos, acende o alerta para a crescente sofisticação da ação das quadrilhas no setor de telecomunicações.
Nesta semana, o perfil Jéferfon Menezes explicou no X (rede social antes chamada de Twitter) como está há dias na mira de golpistas que tentam fazer o usuário trocar a Oi pela Claro e, para isso, implementaram o uso de gravações, call center falso, ação de técnicos e atendentes da Oi, além de utilizarem o nome Anatel e terem todos os dados da potencial vítima.
A suspeita é que a ação, que conta com o compartilhamento ilegal de dados do usuário e propositalmente piora o serviço contratado em uma operadora, force a migração para uma concorrente para o recebimento de comissão de vendas.
Entenda o golpe
Segundo o usuário, sua internet Oi Fibra estava com a velocidade comprometida há alguns dias, a ponto de atrapalhar sua participação em reuniões do trabalho e em cursos. Insatisfeito, decidiu comunicar a Oi sobre o problema que, por meio de uma atendente, afirmou não ter encontrado nenhuma anomalia. A partir desse dia, Menezes diz que passou a receber incontáveis ligações em seu celular – e a internet seguia instável.
Após mais reclamações, a Oi finalmente decidiu mandar um técnico para sua residência. Ele conta que a atendente pediu que ele não bloqueasse nenhum número e que atendesse as ligações. A partir desse ponto, o usuário denuncia que as ligações tinham mensagens gravadas aleatórias. “Uma gravação falava que detectou problema na minha região e perguntava se havia sido resolvido. Eu dizia que não, e me passavam para um [suposto] suporte onde a atendente tentava me convencer a trocar meu plano da Oi, mas que teria que migrar”.
Depois, Jéferfon conta que passou a receber ligações com mensagem muito semelhante, mas com o atendente se passando por um agente da Anatel e tentando lhe convencer a migrar para a Claro. “Sou da Anatel, detectamos que você está pagando a mais na sua fatura e por isso vamos migrá-lo”.
“[Tinha] gravação, call center. A pessoa tinha todos os meus dados”, acentua.
Os atendentes, segundo o usuário, tentavam convencê-lo de que a única opção era migrar de operadora, da Oi para a Claro, “por ordem da Anatel”, já que o problema não seria resolvido.
O mais chocante do relato é que, ao receber novamente a visita de um técnico da Oi na sua residência, Jéferfon foi surpreendido com a suspensão da ordem do serviço, justamente após uma ligação recebida pelo profissional quando o mesmo trocava o modem. Surpreso, o técnico afirma não saber o que houve, mas que a Oi mandaria outro técnico para o endereço de Jéferfon dentro de uma hora – o que nunca aconteceu.
Menezes contra que as ligações voltaram e, dessa vez, os atendentes questionavam se o técnico havia resolvido o problema. “Quando eu dizia que não, eu caía num tal de ‘setor técnico’ da Anatel que tinha todos os meus dados e tentava me vender a migração para a Claro”. “Liguei na Oi e me informaram que o meu chamado havia sido fechado pelo técnico (que nem apareceu).
O usuário disponibilizou na rede social uma gravação de uma das ligações que recebeu, com a gravação se passando pela Anatel. Após uma atendente assumir a ligação, se identificando como Keila, ela nega ser vendedora da Claro, diz que é uma parceira da Anatel e que sabe da insatisfação de Menezes com a operadora contratada, a Oi, devido a um suposto sistema da Anatel que compartilhou informação.
Anatel não liga para ninguém
Em nota enviada à imprensa, a Anatel disse que “não entra em contato com consumidores para recomendar ou determinar a troca de prestadoras de serviço”, analisa a denúncia e que as empresas envolvidas, no caso Claro e Oi, foram oficiadas.
Na página da agência destinada a orientar o usuário sobre as reclamações, a Anatel mostra que nunca entra em contato com o usuário, apenas com operadoras, ainda que ele possa entrar em contato com o regulador, caso seu problema não seja resolvido com a empresa contratada pelo mesmo.
O que disseram as operadoras?
Em posicionamento enviado à imprensa, a Claro afirma que, em resposta à crescente onda de golpes no Brasil, que se intensificou com a digitalização impulsionada pela pandemia, investe constantemente em políticas e procedimentos de segurança, adotando medidas rígidas para identificar fraudes e proteger seus clientes. e que todas as denúncias recebidas pela operadora são apuradas, como prática de governança.
Entre as orientações da operadora aos clientes, estão:
- A Claro não entra em contato para oferecer a migração dos serviços para outras operadoras;
- Consulte os canais oficiais da Claro para atendimentos técnicos e questões relacionadas à interrupção da internet;
- Cuidado com o compartilhamento de informações pessoais, conteúdos e transações feitos por meio de sites de compras e aplicativos de origem duvidosa. Ações como essas podem abastecer grupos criminosos com dados reais;
- Se receber qualquer protocolo, via SMS, WhatsApp, e-mail ou outro canal, referente aos serviços contratados e que desconheça, o cliente deve entrar em contato com a operadora imediatamente;
- Em caso de dúvidas, o cliente deve entrar em contato com a central de relacionamento, que está à disposição em todos os canais: site, aplicativos Minha Claro residencial e móvel; e pelo telefone 10621. O funcionamento é 24h e a ligação é gratuita. A operadora também disponibiliza um site com dicas de segurança para os clientes.
Até o momento desta publicação, a Oi não havia respondido a um pedido de comentário. O espaço segue aberto.
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