O consumidor de baixa renda pode ter optado por quitar dívidas e sair da inadimplência em dezembro, em vez de consumir mais no mês. Essa é uma das hipóteses do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Felipe Tavares, para o recuo de 0,7% na Intenção de Consumo das Famílias (ICF) de dezembro.
O especialista comentou que, no ICF de dezembro, entre as famílias com renda inferior a 10 salários-mínimos mensais, houve queda de 2,4% na perspectiva de consumo. Foi um recuo mais profundo do que a média nacional para o mesmo tópico, usado para cálculo do ICF e que teve queda de 1,9% para todas as faixas de renda, em dezembro.
“Não conseguimos falar com precisão [a razão da queda de ICF em dezembro]. Mas estamos supondo que, ao se separar as faixas de renda, na baixa renda houve queda mais expressiva de intenção de consumo. E essa mesma faixa de renda foi a que mais diminuiu inadimplência e endividamento nas nossas pesquisas” disse. “A intenção de consumo pode ter caído por gestão orçamentária, essas pessoas trocaram o consumo para pagar dívidas”, explicou.
No entanto, ele não descartou possibilidade de que essa faixa de renda já vislumbre mercado de trabalho menos favorável, nos próximos meses. “Mas isso não está a se refletir nos dados oficiais” disse, ao comentar que os resultados de emprego mais atualizados mostram quadro positivo.
Outro aspecto que pode ter colaborado para o recuo do indicador, em dezembro, foi movimento de antecipação de compras feito por famílias de maior renda, principalmente em duráveis. O pesquisador informou que, nas com renda acima de dez salários mínimos, a intenção de compra de duráveis caiu 1,9% em dezembro – sendo que, na média nacional, com todas as faixas de renda, essa queda foi de apenas 0,4%.
O especialista reitera que a CNC ainda está otimista com as vendas de Natal, mas com “luz amarela”, nas palavras do técnico. Isso porque as vendas do varejo na Black Friday, semana promocional do comércio em novembro, não foram no patamar esperado pelo setor. Isso significa que o varejo entra dezembro já “bem estocado”, notou o técnico. “Mas isso pode significar também que o varejo vai entrar mais agressivo em preços no Natal, com mais promoções”, comentou o especialista.
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