Uma das novidades da recente política nacional para concessões de rodovias federais, a obrigatoriedade de implementação do sistema de pagamento automático de pedágios, o chamado free flow, até o quinto ano de concessão se tornou uma oportunidade para empresas do setor, como Sem Parar e ConectCar, avançarem em um mercado em que cerca de 20% da frota de 60 milhões de veículos no país utilizam as “tags”.
No entanto, a cobrança de mensalidades ou taxas de manutenção tem sido uma barreira de mercado para essas empresas, que buscam tornar um carro uma carteira de pagamento. “Cada empresa tem trabalhado para ter mais aplicações e serviços dentro desse produto”, reconhece André Turquetto, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pagamento Automático para Mobilidade (Abepam), ao IM Business.
A entidade foi criada há dois anos para discutir saídas para as empresas de tag. Ela representa as principais empresas do setor – além da dupla Sem Parar e ConectCar, a associação conta com Greenpass, Move Mais e Veloe. Turquetto lembra que algumas iniciativas para tornar o carro uma “carteira” já estão em curso. Além do pagamento de pedágios, em que as empresas de tag não ganham nada – o que explica a cobrança de mensalidade e taxas –, há também a possibilidade de se pagar o abastecimento do veículo, estacionamentos, Zona Azul e até em alguns restaurantes com drive-thru.
Para Abepam, a adesão do free flow por parte das concessionárias rodovias tornará mais atrativo o uso de tags, uma vez que os motoristas não terão praças de pedágios em todos os trechos e terão que fazer o pagamento via tag ou pelo sistema da concessionária. “Temos 78 empresas atuando em rodovias no país, não é intuitivo para esse motorista ter que acertar esse pagamento no site da concessionária.”
Exemplo disso está em um piloto promovido pela CCR na Rodovia Rio-Santos (BR-101), em um trecho entre a cidade de paulista Ubatuba e a capital do Rio de Janeiro, onde há três pórticos de cobrança de uma taxa de R$ 4,60. A infraestrutura tem capacidade de identificar 100% das passagens, sejam elas por tags ou leitura da placa. Nos primeiros números da iniciativa, a inadimplência da leitura de placas foi de 16%, enquanto a das tags beirou zero. “É um teste em menor escala, mas isso demonstra a confiabilidade do nosso método”, reforça Turquetto.
O racional por trás da cobrança do free flow, contam especialistas, está em uma maior justiça tarifária. Isso porque dados do setor apontam que cerca de 20% dos veículos que trafegam por uma rodovia chegam até a praça de pedágio, o que significa concentrar nesse público toda a tarifa. “[O free flow] Tem como atributo garantir mais eficiência e equidade na cobrança do pedágio, pois o valor da tarifa pode ser calculado de forma mais aderente à distância real percorrida pelo veículo na pista”, escreveram em um artigo os pesquisadores do grupo Infra 2038, formado por técnicos do setor de infraestrutura.
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André Turquetto, da Abepam, lembra ainda que há uma economia operacional para as concessionárias com a substituição de praças de pedágios pelos pórticos do free flow. “As praças de pedágio são praticamente bunkers, e um pórtico pode custar até 75% menos do que um pedágio tradicional”, acrescenta.
Além do trecho da Rio-Santos, a ERS-122, rodovia que passa por municípios da Serra Gaúcha, começou a instalar seus primeiros pórticos em novembro, sendo a primeira estrada estadual a receber a tecnologia. Ao todo, a concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) instalou seis pórticos em locais próximos das praças de pedágio existentes ou previstas no projeto da concessão. Outros cinco pórticos têm previsão de entrar em funcionamento a partir de fevereiro do ano que vem.
O setor vê potencial de crescimento com a adoção de free flow em outras estradas estaduais em obras, como o Rodoanel de Belo Horizonte, sob uma parceria público-privada entre a italiana INC e o governo de Minas Gerais, e o lote de rodovias do noroeste de São Paulo, concedido para a Ecorodovias. No âmbito federal, além dos dois blocos de estradas federais do Paraná leiloados neste ano, para Pátria e ERP, há também as BR-381 e 040, estradas que deverão ser levadas a leilão em 2024.
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