Quando o leite fermentado chegou ao mercado, a ideia de que havia microrganismos vivos que eram benéficos ao organismo humano foi popularizada. Porém, durante anos ou talvez décadas, essa ideia ficou limitada a esse tipo de produto, quando, na verdade, a atuação de bióticos em benefício do corpo humano se mostrava possível em produtos de diferentes tipos.
Recentemente, o mercado consumidor brasileiro descobriu todo o potencial dos bióticos, o que criou desafios adicionais: a regulação das matérias-primas que estavam sendo utilizadas pela indústria. A atuação da Anvisa foi fundamental para retirar os produtos ineficientes do mercado e dar mais credibilidade às empresas sérias.
Essa maturidade alcançada pelo mercado foi um dos assuntos destacados durante o Q&A “Bióticos e saúde gastrointestinal: oportunidades e desafios”, evento organizado pela Food ingredient South America (FiSA), que contou com a presença de especialistas tanto da indústria quanto do mundo acadêmico, na Plataforma Digital FiSA Xperience.
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Etapas para validação do biótico
“A (Resolução da Diretoria Colegiada) 241 (da Anvisa) foi e continua sendo importante porque traz exigências tanto para o fabricante do probiótico poder ter o produto registrado quanto para a indústria de alimentos e suplementos utilizá-lo da melhor maneira”, disse Francine Schutz, consultora científica especializada em probióticos da Schütz Mendes Consultoria Científica, durante o Q&A.
A especialista enumera as etapas necessárias para que o produto seja validado e comercializado de maneira correta.
- É feito o registro da matéria-prima, com testes genéticos e de resistência estomacal. Ele é apresentado junto com estudos clínicos.
- A indústria compra aquela matéria prima e faz o estudo de estabilidade (shelf life). O produto precisa manter a suas unidades formadoras de colônia ao longo do prazo de validade
- A indústria faz o registro da sua fórmula. Todas precisam se adequar, das pequenas às grandes.
Francine diz que, anteriormente, apenas as grandes farmacêuticas faziam esse controle, mas a Anvisa forçou todos a fazer, “o que traz segurança e eficácia clínica”. Com isso, “quando o consumidor compra, ele tem certeza da comprovação dos benefícios”, o que aumenta a adesão e a confiança nos bióticos de maneira geral.
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Regulação depois do boom de consumo
A especialista avalia que a Anvisa, ao apertar a fiscalização, se preocupou principalmente com a qualidade da matéria-prima que estava sendo importada ao Brasil com a explosão do consumo desses produtos.
“Assim que começou a virar tendência por aqui, todo o mundo começou a trazer probióticos e precisava haver um controle de qualidade. Tudo isso forçou quem atua no segmento a ter um padrão de qualidade, trazendo segurança e eficácia, isso é mais importante e a Anvisa foi muito feliz nisso”, complementa.
Decisão da Anvisa amadureceu mercado
Sergio Roberg, empresário e CEO da O Roberg, laboratório voltado para alimentos funcionais, especialmente, bióticos, ressalta a preocupação da Anvisa em separar a boa produção de matérias-primas daquelas obscuras ou ineficientes.
“Hoje, a Anvisa já tem aprovados os probióticos que o Brasil aceita e, só com essa separação, a indústria já caminhou mais de 200 quilômetros. Fica muito mais fácil apresentar um projeto para a Anvisa, sem que seja preciso fazer inúmeros estudos, como antes, quando surgimos com nosso primeiro produto (nos anos 2000)”, destacou Roberg durante o Q&A.
Dentro do site da Anvisa existe uma janela de acesso onde é possível encontrar todos os probióticos aprovados e as respectivas alegações funcionais ou de saúde, “o que facilita bastante o trabalho de quem quer entrar no mercado”, destacou Ary Bucione, consultor, fundador da NutriConnection e diretor da BCBioconnectionBrasil, que também marcou presença no evento da FiSA.
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