A negociação de um teto de juros para o consumidor que atrasar o pagamento da fatura do cartão de crédito e cair no rotativo, deve passar por restrição na venda parcelada sem juros. Isso é que provocou uma guerra no setor. A sinalização já foi feita pela Febraban e já se espraia no comércio as parcelas com acréscimos.
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O mercado tem até dia 1º de janeiro para enviar uma proposta alternativa ao limite proposto pelo governo de 100% ao ano, e deve jogar duro. Uma taxa de 100% ao ano, está longe de ser baixa. Mas hoje a média está acima dos 440% ao ano, com picos na casa dos 1.000%. Para economistas, a conta vai novamente parar no bolso do consumidor. Na verdade, o consumidor tem um suposto benefício com o parcelado sem juros, porque os juros estão embutidos, agora, sem o parcelamento ele será mais prejudicado.
– Sempre foi uma falácia o parcelamento sem juros. Se negociar o pagamento à vista, o preço cai. O que vai acontecer agora é que vai ficar ainda mais caro. O comércio vai te dizer que está cobrando juros, mas não vai tirar aquele que já estava embutido na operação. Se isso acontecer o consumidor vai pagar mais caro. O comércio também vai sair perdendo, pouca gente tem dinheiro para pagar à vista – avalia Graziela Fortunato, especialistas em finanças pessoais, professora da Escola de Negócios da PUC-Rio.
A economista Ione Amorim chama atenção para o fato que no comércio já há parcelamento com juros mensais de 1,99% a 2,99% ao mês, o que vai resultar numa taxa anual de 30%:
-Quem parcelar e não conseguir pagar o cartão ainda vai ter a incidência do juros do rotativo sobre esse valor.
Segundo dados da Febraban, 75% das carteiras dos emissores e 50% das compras são feitas com parcelado sem juros no Brasil. Estudos feitos pela entidade apontam ainda que o prazo de financiamento impacta diretamente no custo de capital e no risco de crédito, e a inadimplência das compras parceladas em longo prazo é bem maior do que na modalidade à vista, cerca de duas vezes na média da carteira e três vezes para o público de baixa renda.
Ione pondera que o consumidor brasileiro foi educado, incentivado pelo próprio mercado a comprar parcelado no cartão de crédito:
– Foi uma das formas que se conseguiu expandir o meio de pagamento. Inclusive ao não dar desconto à vista. Durante um tempo houve uma tese, já derrubada, que não poderia ter preço à vista diferente do a crédito, o que praticamente empurrava o consumidor ao parcelamento. A venda parcelada ajuda o comércio a aumentar seus potenciais consumidores. Ele ainda consegue receber antecipado, pagando uma taxa ao emissor do cartão. Tem toda uma cadeia que ganha – diz Ione, que é coordenadora do programa de Economia do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Para Graziela, só tem uma maneira eficaz de reduzir os juros é aumentar o crivo para concessão do cartão:
– As empresas tinham que ser mais criteriosas na concessão do cartão. Mas vai continuar todo mundo entrando sem análise. E aí com esses juros altos, os que pagam suportam aqueles que dão calote. E o juros é tão alto, que quando se tem dívida não é difícil mesmo direto com o banco conseguir um bom desconto para a quitação, o que é uma admissão do acréscimo excessivo ao débito no cartão. O que acontece é quem não tem ferramentas para negociar, justo os mais vulneráveis, são o que acabam pagando mais – pondera a professora.
Ione também defende uma concessão de crédito mais criteriosa, mas não acredita que isso venha acontecer, diante da profusão de cartões que se vê no mercado, inclusive o de private bank.
-O Banco Central entrou de cabeça nesse setor há 13 anos, foram quebrados monopólio de bandeiras, de maquininhas, novos agentes entraram nesse setor. A concorrência cresceu muito com a lei das empresas de pagamento virtual e não refletiu na redução de custos aos lojistas e nem dos juros aos consumidores, continua a panelinha só quem ganha é que está dentro da operação.
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Na avaliação de Graziela só um caminho para sair desse ciclo:
-A saída é a educação financeira, as pessoas entenderam o que pagam, os custos embutidos.
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